– 7H30 Bom dia, amorzinho mais lindo da vida! ❤️ Hoje acordei te amando daqui até a torre mais alta da Avenida Paulista em passo de formiguinha! 🐜Pra sempre e cada vez mais
– 9h15 Oi, amor! Resolveu dar um cochilinho até mais tarde, né? Safadinho. Saiu com os meninos ontem? Podia ter deixado um Buscopan Fem aqui na minha portaria. Tou tão doloridinha. Dor de cabeça, peitos inchados. Tenho esperança de que ainda vai ser criado um dia no calendário pros homens lembrarem que as mulheres menstruam, têm cólica tpm. E que esse dia não se restringirá a um 8 de março qualquer.
– Rô, já são 12h10! Tá vivo? Não fez xixi hoje pra nem escrever pra mim do banheiro? Não sobrou um minutinho pra me dar um oi? Nem pra saber se a água do meu chuveiro tava quente? Se a granola do iogurte tava crocante? E maaais! Você es-que-ceu que hoje eu tenho consulta com o Dr. Evaristo. Bem se vê quem ama quem! Humpf!
– Rogério, são 15h12. Acabo de sair da consulta. Não volto mais aqui. Acha que o médico me deu um antiansiolitico? Naaaao! Me mandou tomar um diurético. Di-u-ré-ti-co. E eu: “doutor, você tem útero? Você sabe o que é ter uma barriga de grávida sem estar? Você tem dores de cólica renal sem ter as pedras? Você tem esposa, doutor????” Ele não se importou comigo, Rogério!! Ele é tão insensível quanto você. Um bando de bonecos de neve mal esculpidos! Saí de lá tão inchada que precisei parar na loja da esquina e trocar a calça jeans por um macacão; a única roupa que me servia. Agora imagina: diurético + macacão! É pior que combinar feijão com melancia! Precisei ir 6 – seis! – vezes ao banheiro e em todas elas foi quase como tirar uma fantasia de escola de samba dentro de um caixote de geladeira. E acha que saí fininha de tanto perder líquido? Naaaao! Saí cheia de vontade de comer chocolate! E você, Rogério Orlando?? Não tá nem aí pra minha TPM! Sabe o que vou fazer? Vou comprar um ovo de língua de gato e comer inteirinho! E mais! Vou dar para o primeiro que aparecer na Kopenhagen – e não vai ser o ovo!! Ou para o segundo, se o primeiro for muito zoado… só pra mostrar como te odeeeeio!
– Rogério Orlando da Silveira: estou na porta do seu prédio. Se o seu porteiro pensa que vai me deter, ele não me conhece.
Corri para o elevador enquanto seu Renilandro tentou conter minhas largas passadas, mas, mesmo inchada como um balão, ainda sou ágil como um gorila. Fugi pela escada de emergência, peguei a caneta de bico mais grosso que tinha na bolsa, cheguei na porta do seu apartamento e escrevi de cima abaixo F R O U X O. Cheia de orgulho de mim mesma, meus hormônios me aplaudindo, meu suor me ovacionando, a barriga protuberante com a cabeça latejando tamborilando, o queixo cheio de espinhas só atrapalhando – mas aquilo era um trabalho em equipe! Senti uma estima tão grande por mim que comecei a chorar no caminho para o elevador. Chorar sem motivo, pela caneta, pela barriga, pelo macacão, pela minha pequena tragédia. Foi quando encontrei dona Verônica, a mãe do Rogério.
– Oi, querida! – ela me disse. Gê já acordou da anestesia? Saiu da endoscopia todo apagado, dormiu o dia inteiro, coitado.
– Ah! Lembrei-me vagamente do exame. Acho que o Dr. Evaristo comentou alguma coisa sobre alteração na memória de mulheres com TPM.
Caminhamos até a porta e ela se deparou com a minha “arte”.
– É uma homenagem para o Gê: “Freixo”! – improvisei – Minha letra “e” confunde com “o”. Hihihi. Ri amarelo fazendo um garrancho por cima do O. “É que o Gê se amarra no Freixo.” – completei sob os olhares curiosos da minha quase sogra.
Nisso, Gê abriu a porta visivelmente enfraquecido.
Agarrei seu pescoço:
– Gê, amorzinho mais lindo da vida! ❤️ Hoje acordei te amando daqui até a torre da paulista mais alta em passo de formiguinha! 🐜 Pra sempre e cada vez mais
Amor de quem tem tpm é sempre pra sempre. Amores femininos tendem a ser mais duradouros e estáveis. Talvez, um tantinho mais nebulosos em alguns dias do mês, mas é tudo culpa da serotonina.
Ivy Cassa
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