A primeira vez que vi Carpinejar, ele estava nas mãos da minha mãe. Era réveillon, mas eu não estava nem no ano velho nem no novo; estava deslocada de calendários, relógios e tudo que deixamos de lado quando descobrimos que nossa festa preferida acabou. Além do mais, a noite do ano novo não merecia o meu mau humor, que nem pôde ir de branco porque camuflava uma tristeza sem fim dentro de mim. Ao abrir aleatoriamente uma página do exemplar que ela estava lendo – um livro sobre amor, não me lembro qual – formou-se um inevitável confronto: a miséria amorosa em que eu me afogava versus a beleza dos amores do autor. Não era só um paradoxo vivo; era uma baita sacanagem. Assim, não houve amor à primeira vista – esse só devia existir nos livros dele. Humpf!

Com o tempo e as feridas já mais cicatrizadas, fui aos poucos tentando uma aproximação platônica com Carpinejar. Não foi nada difícil; ele me ganhou desde os “guardanapos sentimentais” até o “Procon do amor”.

Recentemente, decidi pinçar no grande leque de livros de sua autoria algum que fosse tão poderoso e servisse como um placebo, um abraço para curar tantos estragos dos gélidos tempos de portas fechadas.

Foi quando me deparei com “Colo por Favor” e me rendi ao tal “travesseiro de gente”: o próprio Carpinejar.

Entre “dilúvios de agonias persistentes”, “deserto de ideias indolentes”, “inanição afetiva” e “suspiros à beira de um cânion imaginário”,, tive finalmente a sensação de estar recebendo “colo”.

Uma lástima ter demorado tanto para conhecê-lo. Ele não só merece lugar na minha biblioteca como dentro de mim.

Carpinejar, obrigada pelos seus textos; você é muito gentil conosco nos presenteando com suas palavras. Por meio do seu olhar de esperança, a vida deixa a Terra um pouco mais doce.

Por Ivy Cassa,