
Quero nascer macho. Fazer xixi em pé, não lavar as mãos depois do ato, não menstruar. Eu disse não, menstruar? NÃO MENS-TRU-AR. Não ovular, não ter cólica antes, durante e depois. Não acordar duas horas antes do namorado que vai pro mesmo congresso que eu pra poder tomar um banho, lavar o cabelo, fazer escova no cabelo. Pra levar no avião só uma mochilinha e um porta terno, não me preocupar se o salto do sapato pode quebrar e precisar de um reserva, se a meia calça pode rasgar, se a roupa tá repetida, se a unha tá mal feita, se o cabelo está desgrenhado. Tomar café da manhã sem escovar os dentes e sair pra um passeio romântico usando a camisa do time de futebol, peidando sem pudor na frente da dona XX.
Quero sair do carro de braguilha aberta, coçando o saco com a mão no bolso, chegar numa oficina mecânica e entender tudinho o que o mecânico explicar. Ah, se eu fosse um XY… o mecânico do mês passado não teria falado com nojo que a parte de baixo do meu carro tava praticamente perdida. Não me pediria 3 mil reais que até considerei parcelar em umas 3 mil vezes – fora o capô do carro, que ele nem abriu de tanto horror – praticamente a geladeira da família dinossauros. Não precisaria sentir raiva do primeiro mecânico quando o segundo cobrou só um mil e falou que o carro tava beleza. Nem pagaria 150 reais pro mecânico do segundo carro pela gasolina, pra ele me devolver o automóvel com o combustível zerado, que só por oração chegou ao posto. É se queimar por tão pouco. Tivesse pedido uma gorjeta ficava mais honesto.
Não precisaria me meter em bate bocas com os caras das oficinas de hoje, por exemplo, que me fizeram um orçamento incluindo um licenciamento mais caro que o preço oficial do DETRAN, tentar me fazer engolir um despachante pra fazer um trabalho que eu mesma posso realizar com um computador, nem pagar um DUT – “moço, mas eu não tou transferindo carro. Que são esses 250 reais?”
É, rapazes. Sem generalizações, sei que nem todos vocês são assim, sobretudo a maioria meus queridos leitores do Portas Abertas. Aqueles que não merecem, por favor perdoem o desabafo. Compreendam essa explosão de quem passou uma vida tentando escapar do XY da bimboca da parafuseta.
Não rasguei sutiãs porque não era nascida na época, mas faço minha parte picotando metaforicamente quase um por dia. É muito cansativo ser XX.
Se houver outra vida, rogo que me proporcionem um Y de presente, por merecimento… ou pelo menos um curso de mecânica já na época da escola. E que os XY espertalhões estejam mais evoluídos, e enfiem todas as rosas e bombons que nos deram no dia 8 de março em um lugar que se eu escrever dirão: “uma XX não fala assim”. E eu possa com propriedade responder: nem um XY faria um papelão desses.
Por Ivy Cassa