Depois de um ano me achando mais feia que bater em mãe, hoje fui tomar banho à luz do celular – porque as 5 lâmpadas do meu banheiro queimaram – e achei meu reflexo na parede do box tão bonito enquanto me ensaboava. Fiquei me admirando, com todos os quilos contraídos, com o cabelo desgrenhado, com a sobrecarga mental de quem achou que teria férias mas se enganou, e ainda assim me apreciei nos breves instantes em que gotas do chuveiro criavam uma bruma morna em volta do meu corpo. Era preciso registrar.
Depois de algumas dezenas de tentativas de clicks, percebi que ou eu não estava com aquela bola toda, ou eu não acertava o ângulo da foto. Paciência. Reanalisei todas as fotos mal batidas até chegar a essa.
O problema de repente deixou de ser o ângulo e a perda do charme, e sim as juntas dos azulejos que eu ainda não aprendi a lavar direito.
Cansada, eu não tinha mais pique para fazer uma jornada contra o limo (até porque eu nem sei se era limo ou o próprio rejunte que escurecia as bordas).
Recorri ao Photoshop e consegui remover todos os traçados dos azulejos da parede. Junto com eles, foi-se também parte daquele “sex appeal” que só eu estava achando que tinha.
Essa é uma metáfora sobre 2020: tentar achar graça; tentar SE achar uma graça, só se achar uma graça na sombra do box, errar na foto e esconder os rejuntes com Photoshop. Depois de tanto trabalho, a foto ficou uma 💩. Bem, até por isso a metáfora com 2020 faz sentido.

(Por Ivy Cassa)