No último “2Taças com a Ivy”, uma das perguntas feitas para minha mãe foi: “depois de ter sido apresentado um cardápio tão vasto de crushes, quem do livro vc escolheria para a Ivy?

A escolha ficou entre Pedro e Fred. Como escrevo com mais frequência para o Pedro, o assunto hoje é:

FRED

Não sei se te contaram que escrevi um livro no ano passado. Você me stalkeia de vez em quando? Alguém é tão evoluído a ponto de não stalkear? Talvez você seja. O meu ponto de equilíbrio.

Mas, se você tivesse stalkeado, de repente podia ter se encontrado ou até mesmo mudado o meu destino. Efeito Borboleta, Fred.

Por que Fred? Nem eu sei. Como também não sei explicar como a gente se afastou tantas vezes nesse tempo. O que faltou? Copos de estrela pro nosso enxoval? Estão aqui.

Fred foi meu primeiro namorado pra valer! Usava calças levis e camisas polo geralmente azuis ou pretas. Era esse o uniforme do Fred – “monorroupa”, apelidamos. Mas ele era charmoso de qualquer jeito.

O dito popular que afirma “fulano tem uma paciência de Jó” deveria mudar a expressão para “tem uma paciência de Fred”. Suportou, se responsabilizou, apoiou, incentivou e ajudou a consultar cada pequeno pedaço do inferno que é a vida de um vestibulando. Nunca propôs qualquer quebra de regra por um tesão repentino ou uma escapadela ao cinema. Quase 7 anos mais velho que eu, tinha mais discernimento que meu próprio pai.

Entrar na faculdade namorando é só uma questão de tempo para acabar. No fundo, mesmo “meninota” (palavra da minha avó) eu sabia. E ele também. Raríssimas as exceções. Mesmo com o Fred marcando presença na minha matrícula, nos trotes, nas festas que na época ainda podiam ser dentro das arcadas franciscanas. Fred não bebia, entendia minhas crises de ansiedade quando eu achava que ia vomitar batata frita – PS: mesmo depois que a gente terminou, nunca vomitei batatas – fritas, cozidas, de qualquer jeito.

Mesmo com Fred disputando o Oscar do melhor namorado do ano. Do mundo! Eu cansei… Acho que quase todo mundo que entra na faculdade, pra vestir a sua bata franciscana e cantar músicas que jamais cantaria na frente da sua mãe é assim. É preciso viver a faculdade e aprender seus caminhos batendo a cabeça sozinho. Eu não precisava de um Fred Pai. Eu só queria ser uma caloura e não me arrepender do que não fiz.

Final do primeiro ano, por um motivo “torpe” (ah, essa linguagem jurídica), terminei com ele. Era jogo de cartas marcadas.. Na época, como não tinha rede social, eu nem podia bisbilhotar a vida dele. E mesmo que tivesse, ele é discreto. Daqueles que entram na rede a cada biênio pra agradecer pelos parabéns  – dado por um amigo que até já morreu.

Em 2002, minha avó paterna faleceu. Foi nosso primeiro encontro. Não resistimos. Achamos que tinha espaço pra continuar junto. Diante da morte qualquer um se apequena e repensa seus desejos. Mas não deu. Eu, no calor dos meus 20 anos, queria ser pós adolescente – já que passei dos 15 ao 19 estudando pro vestibular, e ele continuava pedindo a mesma coca cola, usando a mesma polo e calça jeans…

Morreu o avô do Fred. Ficamos juntos de novo. E tornamos a nos separar pouquíssimo tempo depois. Parecia que quanto mais tempo a gente se afastava, mais um se perdia um do outro. Uma espécie de labirinto do amor.

Quantos velórios seriam ainda necessários pra gente ficar juntos de vez? Era muita esquisitice!

Pra não dizer q só se falou de velório, teve um casamento de um conhecido de ambos. ❤️🙏🏻 Ufa! Agora vai! Dançamos, ele me deu carona, saímos mais uns pares de vezes e… a avó paterna dele morreu!

Parece filme, né? Mas foi desse jeito.

Acontece que no meio dessas idas e vindas, Fred perdeu o timing. Pedro foi ligeiríssimo, como ele era na vida – um corredor. Pedro sempre deve ter intuído que o tempo era pouco. A agitação e monotonia do Fred me arremessaram para os braços do Pedro.

Em 3 meses, estávamos noivos. Mas, dentro desse período, no 2o mês, morreu minha avó materna… Que adorava o Fred. Eu tava lascada.

Por um lado, eu não podia contar pro Fred nem q eu tava namorando nem que minha avó tinha falecido mas ele não podia ir. Os velórios eram os “nossos” momentos. “Oi, é pra avisar que minha avó morreu e que NÃO é pra vc ir ao velório”. Desliguei.
Já imaginou o fuxico? As pessoas já perdem foco e noção quando tem velório, transformam banco em sala de visita. Imagina Pedro, Fred e eu no velório da minha avó. Nem que minha avó levantasse do caixão seria tão impactante quando o fuzuê do ex com o atual. Velórios não são pra roubar o protagonismo da cerimônia. Tia Odete, que não passa uma união familiar perguntando se estou namorando, ia pirar!

Fred deve ter pescado. Era ponderado, maduro. Parece que pactuamos secreta e telepaticamente que estaríamos sempre juntos, mesmo que fosse (e espero que não!) num funeral.

Em menos de um ano de ter conhecido o Pedro, eu me casei. Não convidei o Fred, claro.

Passou um tempo, ele passou a exibir um prêmio de consolação. Até casou. E gosto não se discute.

Ah, mas um tempo depois, foi o funeral do Pedro. Não convidei. Nem me passou pela cabeça.

Vislumbro poucos casamentos em vista, e espero que velórios também. Mas minha mãe tinha razão (sempre tem) quando eu perguntei na live do “2 taças com a Ivy” quem era o seu genro preferido, dentre os possíveis: Fred

Ivy Cassa

“Voa coração
Que a minha força te conduz
Que o sol de um novo amor
Em breve vai brilhar”

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