Quando foi a última vez que você amou? Antes ou durante a quarentena? Que deu um beijo de novela? Que colocou a foto do crush de fundo de tela do celular, de pôster nas paredes da sua casa, estampado na sua caneca de café e só não pregou a foto dele no escritório porque você trabalha em smartoffice e não tem mesa fixa?

Se você é daquele time que defende que toda paixão é ilusão, pensa bem se quer continuar lendo. Eu tou de tpm e tão descompensadamente emotiva que até chorei quando o Rappi avisou que a canjica tava em falta. Hoje aqui vai ter regra: quem nunca foi tirar um brinco e ficou com o perfume dele impregnado nos dedos e considerou não lavar aquela mão até que o perfume dele saísse tá desconvidado desse post. Ah, a parte de não lavar a mão é só quando acabar a quarentena, tá? Licença poética não é abertura pra espalhar doença.

Grande parte daquele amor – mais líquido que picolé fora do isopor na praia – derreteu na quarentena. Virou uma meleca que ninguém quer: números de telefone e contatos deletados ou bloqueados. Estradas esburacadas por onde penamos pra chegar, e afinal tem uma placa: PARE! Amor de quarentena é assim. Interrompido.

Já o amor pós quarentena pode ser que derrube a placa a pontapés e chegue até lá. Lá onde, mesmo? Precisa chegar “lá” pra ser amor? Deixa ser aqui mesmo, agora, vai… “love is in the air”

Se os amores já eram sucos de maçã, o que se pode esperar no pós quarentena? Shots de tequila? Avalanche de divórcios? Franco atiradores levando o maior número de presas para o abate? Presas querendo ser abatidas? Promoção em casas de “entretenimento”?

O que queremos do amor, durante e pós quarentena? Vai piorar? Afinal, quem vive uma quarentena sozinho pode bem viver uma vida… em tese.

Mas também pode ser que melhore muito, e até na própria quarentena. Vai dizer que vc nunca foi levar seu lixo na lixeira que fica no térreo e se apaixonou pelo vizinho do 4o andar mascarado? De máscara e na carência que a gente tá, qualquer um virou sósia do Antônio Banderas. É o desatino da quarentena.

E o que fazer com os ex? “Dessa água não beberei mais”? A gente tenta se convencer num consolo bobinho, mas no primeiro ímpeto de fraqueza de quem já não sabe o que é ter uma língua enroscada na sua há meses, não só bebe um pouco da água como até mergulha na caixa d’água. E só sai quando a última gota secar.

Como está sua relação com o outro? Conseguiu perdoar? Foi capaz de SE perdoar? Ou ambos estão tão perdidos vendo lives toscas, como se o mundo não estivesse quase acabando, mas o orgulho fosse mais importante que qualquer reflexão sobre vocês dois? Sabia que vocês podem fazer uma live, digo, um telefonema? O smartphone serve pra isso também!

Quando foi sua última paixão? Eu tive duas quase simultâneas: uma que não tinha tempo pra mim mas queria que eu estivesse sempre pronta pra quando ele pudesse. E o outro que era quase a mesma coisa. Ai, se meu terapeuta lê isso! Lá vem a droga do padrão de repetição blá blá blá. Tá, também teve o que dizia que não tinha tempo mas tinha tempo sim e o que até podia fabricar tempo mas numa escapada digna de filme policial fugiu – acho que só não foi pra Marte porque ainda não estão aceitando mudanças pra lá. Amor e o tempo… mas quem quer arruma 5 minutinhos, não? Se não por amor, por educação, pelo menos.

Pra fechar esse desabafo apocalíptico, a gente podia aproveitar a quarentena pra resolver umas pendências, né? Liga. Escreve. Conta. Pergunta. Se for verdade, diz que sente saudade. É tão gostoso! – lembra até a letra de “Evidências” 😱😱😱

Espero que meus leitores e seus familiares estejam bem, dentro das limitações que nos foram impostas. Disseram que a quarentena passa. Já a “live” da nossa vida tem contagem regressiva pra acabar. Então corre, antes que o Grande Anfitrião encerre o evento e não dê tempo nem pra um bate-papo.

Por Ivy Cassa

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