Ter 37 não é mais ter 15. É ter a cólica dos 15. Os cabelos oleosos dos 13. As espinhas dos 11. Os problemas dos 40. Mesmo sem ter chegado a eles. É entrar num elevador, achar que dava pra dar uns pegas no menino de 18 mas levar uma cantada do pai, que podia ser seu tio avô.
Ter 37 é não ter nenhuma aula de química de um professor mais boa gente cabeludo, de uns 30 e poucos, que dê para matar e colocar uma bolsinha de água quente na barriga, só pelo carinho.
Ter 37 é ter maturidade pra voltar da Europa triste porque já passou o tempo em que se achava que felicidade morava no velho continente, escondida dentro de uma taça de cristal de vinho Bordeaux.
Ter 37 é regressar ao apartamento em São Paulo, montado com tanto carinho, sonhando encontrar a geladeira cheia de vinho Rosé – que não se bebeu com o namoradinho que não é mais namoradinho, alho vencido e cebola em decomposição.
É não reconhecer – negativamente – o próprio apartamento depois de ter sido “hackeado” pela mãe e uma assistente recrutada à sua revelia por ela. É perceber-se na sua própria casa em um labirinto de objetos desalinhados e quebrados. É buscar um manual para organizar o caos que ficou ainda mais caótico. Apartamentos de escritores deveriam ser asilos invioláveis.
Ter 37 anos é constatar que definitivamente o nosso lugar não é mais a casa da mãe. Não só porque já faz uma década que não vivemos juntas, mas porque vivemos em galáxias distintas. E que a nossa mãe não pertence ao nosso apartamento, assim como nós não pertencemos ao dela. Nós pertencemos a uma foto no facebook num restaurante, uma vez por semana. E a uma dezenas por dia, quando são férias.
Ter 37 é ter a triste certeza de não poder delegar nem a compra de umas havaianas à mãe. Passaram-se 37 anos e não fomos apresentadas. Prazer. Sou a Ivy. Você que me deu esse nome que me causa tanto problema.
Eu tenho 37 anos e calço 37. Eu sei que você passou a vida ocupada com outras pessoas e outras tarefas, mas eu só queria uma bolsinha de água quente. Ah, tá atrasada pra trabalhar, né? Eu esquento, não tem problema.
Ela sai apressada, o taxista aguarda lá embaixo, mas mesmo assim eu grito pela sacada: tem um pouco de afeto na gaveta de chocolates ou na dos chás? Mas ela já partiu.
As mães de mulheres de 37 que não tiveram filhos (talvez as outras também) ainda são um pouco mães de adolescentes. É provável que precisem se adaptar a essa nossa geração – nós também. Daqui a 37 anos, talvez seja um pouco tarde.
(Ivy Cassa)