Pra quem acredita em numerologia, 5 é um número de sensações. Representa liberdade, aventura, mudança, oportunidades e até viagens. Talvez por isso eu tenha esperado 5 anos pra voltar a Lisboa.

Ou apenas porque tava na hora.

Mas Lisboa não é mais aquela. Nem eu. Talvez, por isso nosso match tenha sido tão bom.

Cidade cheia. Viajante de última hora ou fica em um belo hotel em Cascais, longe dos apaixonantes bondinhos (que confesso ainda não ter usado), ou se estabelece numa espelunca perto de mais ou menos tudo – até do que era melhor nem estar tão perto. Minha escolha foi pela segunda. Sofri menos por ser uma espelunca e mais por uma pequena crise de ansiedade diante dos 2 longos lances de escada para chegar à minha pocilguinha, de onde se ouvia o barulho do exaustor do restaurante vizinho. Rivotril e fones de ouvido ganharam status de bons parceiros de viagem.

Portugal continua charmosa pela sua falta de eufemismo: pelo Centro geriátrico “Haja Deus”, pela

Lavanderia “passo aqui”, pelo petshop “O prazer do cão”, além da casa de petiscos “Cova funda”, pela loja de patos – “patosqueria” e pela de costura “Cort&cose”.

Mas Portugal ficou mais gourmet. Oba! Me amarro numa frescurinha. Me apaixonei pelo mercado da beira, onde há croqueteria, garrafeira, bons restaurantes, degustação de vinho, artistas desenhando pelos balcões e um som ambiente composto de vários sotaques e pelo tilintar de taças e talheres. Tudo isso sem deixar de lado as flores e os “frescos”. Os pastéis de bacalhau (que no Brasil são bolinhos) continuam bons. Mas preciso registrar que alguns brasileiros estão numa competição acirrada com eles. Não se pode dizer o mesmo quanto ao queijo de azeitão – só lá mesmo pra ter esse tipo de orgasmo.

Não sou fã de pastéis de nata, então compensei minhas calorias com mais queijo de azeitão! E por falar em azeite – e não em azeitão – ele agora está na lista do que é gourmet: 1 a 2 euros pra ter na mesa. 🙄 Espero que a moda não pegue por aqui.

Não deu tempo nem houve espaço pra passar na Women’s Secret, Oysho, Loja do Gato Preto ou Desigual.

Tampouco pude ir à Tasca do Zé dos Cornos. Não comi “fruta esmagada” nem comprei um “antinódoas” para minhas roupas. E volto com uma dúvida: o que são rebuçados peitorais?

O coquetel do evento (que felizmente eles não chamaram de “copo d’água”) era no Espelho D’água. Eu, tão habitué do Portugália, nunca tinha reparado no local. Muito menos com os olhos da Ivy de agora. O por do sol diante do padrão dos descobrimentos mereceu um Missoni trazido de Milão ainda em 2014. Portugal é mesmo um país cheio de cores.

Mas a cereja do meu bolo português foi o Myriad by Sana, um novo hotel na região da Marina que concentra tudo que há anos eu procurava em terras lusitanas. Chega-se a ele por um teleférico, come-se e bebe-se como rainha e os funcionários têm uma simpatia que não era exatamente o cartão de visitas do país há poucos anos. “Queres mais uma lagrimazinha? – eles perguntam divertidos. Eu quero. Não só uma. Uma dúzia, que já tou com saudades.

Lisboa e eu não precisamos mais de tanto receio para nos encontrar. Somos outras moças, mais evoluídas. O tempo passou! Antes se dizia “Se não tem assistência, um gajo caga naquilo”. Dessa vez eu tive muita assistência.

Na próxima, reservarei o Myriad, e só me moverá de lá o queijo de azeitão e o vinho rosé. Talvez, uma breve passadinha pelo Pingo Doce e o Colombo. Mas eu quero ir pra 🥰namorar🥰 essa nova Lisboa e mostrar pra ela que eu também posso lhe fazer se apaixonar por mim. Quem disse que um casamento com uma cidade não se conserta?

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